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Não há nenhum mérito em se assegurar, após a morte, um emprego útil para os bens que deixamos?

Nenhum mérito não é bem o termo: isso vale sempre mais do que nada; mas o mal é que aquele que dá ao morrer, geralmente é mais egoísta do que generoso; quer ter as honras do bem sem haver provado as penas. Aquele que se priva em vida tem duplo proveito: o mérito do sacrifício e o prazer de ver felizes os que beneficiou. Mas há sempre o egoísmo a dizer ao homem: O que dá, tira dos teus próprios gozos. E como o egoísmo fala mais alto que o desinteresse e a caridade, ele guarda em vez de dar, sob o pretexto das suas necessidades e das exigências da sua posição. Ah!, lastimem aquele que desconhece o prazer de dar, porque foi realmente deserdado de um dos mais puros e suaves gozos do homem. Deus, submetendo-o à prova da fortuna, tão escorregadia e perigosa para o seu futuro, quis lhe dar em compensação a ventura da generosidade, de que ele pode gozar neste mundo. (Ver item 814.)